Emmanuel Jean-Michel Frédéric Macron é na política francesa, e mesmo mundial, um caso de estudo. Depois de uma breve passagem pelo governo como ministro da economia em 2014, onde apesar de ser militante do Partido Socialista apoiou reformas que favoreciam o mercado livre e o setor empresarial, saiu em rutura, cerca de dois anos depois, para lançar a sua candidatura à Presidência da República, tendo sido eleito a 7 de maio de 2017 com 39 anos e 66% dos votos, derrotando, com grande alívio para todos os democratas, a candidata de extrema-direita Marine Le Pen.
Em 2016, funda o seu próprio partido político, A República em Marcha, com que concorreu às eleições legislativas, onde a maioria dos seus candidatos são considerados inexperientes politicamente, porque não provêm dos aparelhos políticos, mas da sociedade civil e em que um número muito expressivo destes são mulheres, quase em paridade, tendo obtido, talvez pour cause, a maioria absoluta, embora ensombrada com uma abstenção recorde de mais de 56%. Ou seja, Macron e o seu partido A República em Marcha, com os aliados do MoDem, asseguram uma das maiores maiorias da França desde a II Guerra Mundial, numa relação de forças que não se conhecia desde 1958, varrendo da Assembleia Nacional os partidos tradicionais de direita e de esquerda que estruturam a vida política francesa há décadas.
Este terramoto político francês pode vir mesmo a revelar-se de importância decisiva para o futuro da União Europeia. Com efeito, a aposta do novo presidente francês no eixo, Paris-Berlim, que foi sempre estruturante nos equilíbrios da construção europeia, apesar do mandato desastroso de François Holande nesta simetria, da iminente saída do Reino Unido da União Europeia e de apostas identitárias à esquerda e à direita que reclamam, com algum sucesso, a devolução de atribuições e competências para a esfera nacional, traz uma esperança à refundação dos princípios da carta da Europa Unida, pelo novo ungido da política europeia. Aliás, a sua eleição foi acolhida com alívio, face à brutal ascensão da Frente Nacional, mas também com a esperança de um novo impulso europeu reformista, tendo já Angela Merkel admitido a possibilidade de criação de um orçamento próprio para a zona euro. Porém, antes de se impor na cena europeia, Macron ter-se-á que estabelecer a nível nacional, onde todas as reformas foram impedidas, até agora, por falta de maiorias parlamentares consistentes e por uma força imparável dos sindicatos e dos protestos de rua, contra todas as medidas que cortassem, sobretudo num setor público obeso e com privilégios insustentáveis financeiramente, nomeadamente em matéria de leis laborais, subsídios de desemprego e sistemas de pensões. Também a questão do terrorismo que tem, ainda que impercetivelmente, grande repercussão na economia, designadamente no setor do turismo e do investimento estrangeiro, terá que ser minorado, quiçá debelado, necessariamente no âmbito da cooperação europeia e internacional.
Colapso do sistema partidário francês
Macron é um caso de estudo que simboliza o colapso do sistema partidário francês, que concorreu, inicialmente, sem o apoio de uma máquina partidária, de forma independente, mas que é o único político da nova geração a propor uma renovação da sociedade, uma aposta económica no mercado global e na Europa, com uma visão fresca e reunificadora do futuro, talvez o único capaz de fazer face ao perigo da ascensão da extrema-direita e ao também, não menos preocupante, perigo da desintegração do projeto europeu. Premonitoriamente Emmanuel Macron, se tudo lhe correr de feição, como até agora no alinhamento político dos astros, poderá dizer, num futuro não muito longínquo, a famosa frase atribuída a Luís XIV: “O Estado sou eu!”
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